Yára Dadalti Fragoso
Coordenadora do Comitê de Acadêmicos e Residentes
Nos últimos meses o mundo vem enfrentando uma das maiores crises de saúde da história. Com a rápida disseminação da infecção pelo novo coronavírus, o sistema de saúde de alguns países tem entrado em colapso, com esgotamento de recursos, lotação de pronto-atendimentos, enfermarias e unidades intensivas. Após declarada pandemia pela Organização Mundial de Saúde, a ordem de isolamento social, que inclui a interrupção de atividades de saúde não urgentes, vem gerando grande insegurança e sensação de desamparo para pessoas com outros problemas de saúde, como as cefaleias. O momento demanda serenidade para enfrentarmos e vencermos a crise e as dificuldades impostas. Um passo importante é buscar informação confiável, e evitar disseminação de notícias falsas que confundem e geram pânico.
COMO PROCEDER EM CASO DE DE DOR DE CABEÇA DURANTE A PANDEMIA COVID19?
Especialmente neste momento em que o pronto-socorro é um potencial foco de infecções por COVID-19, o paciente com cefaleia primária (como, por exemplo, a enxaqueca) deve ser muito criterioso na busca de atendimento de emergência. Ir à emergência em busca de um exame, como tomografia, ou de uma injeção de analgésico aumentará a exposição e o risco de infecção pelo coronavírus, pois será um ambiente frequentado por pessoas com a infecção pandêmica.
Nossas orientações seguem neste texto. Em caso de um episódio de cefaleia com claros sinais de alarme, o atendimento médico imediato poderá ser necessário. Entretanto, pacientes que sofrem com dores recorrentes, mesmo com sintomas incapacitantes, como náuseas, devem seguir as orientações do seu médico para tratamento medicamentoso das crises, preferencialmente em suas casas.
Vale ressaltar que, em decorrência da necessidade de isolamento, e para não deixar desamparado o paciente que tem uma demanda de saúde não emergencial, o Ministério da Saúde regulamentou excepcionalmente a realização de consultas via TELEMEDICINA. Por este meio, o médico poderá dar orientações necessárias e indicar a urgência de uma avaliação presencial imediata em um Pronto Socorro ou a realização de exames.
ESTOU COM DOR DE CABEÇA – DEVO IR AO PRONTO SOCORRO?
O atendimento de pronto socorro costuma focar no alívio do sintoma e não na investigação diagnóstica ou no tratamento a longo prazo. O que isto significa? Isto quer dizer que uma pessoa que procura o pronto-socorro porque tem uma dor, receberá um analgésico. Quando a dor melhorar, ela terá alta e será encaminhada para atendimento ambulatorial para investigar e tratar a causa da dor. Exceto pelo risco de morte, as dores são tratadas desta maneira no pronto socorro – dor de estômago, dor nas costas, dor de cabeça, dor nas mãos.
O mesmo ocorre quando a pessoa procura o pronto socorro porque sente que sua pressão está elevada – ao verificar a pressão arterial, se ela estiver realmente aumentada, o paciente recebe o tratamento para diminuí-la e é encaminhado para seguimento clínico ambulatorial. Uma paciente com fortes cólicas menstruais recebe um antiespasmódico e orientação para procurar um ginecologista. Mais um exemplo de tratamento de sintomas no pronto socorro são os estados gripais, onde pessoas com sintomas de infecções virais respiratórias recebem medicação para febre, congestão nasal e tosse e são encaminhadas de volta às suas casas.
O atendimento nos serviços de urgência e emergência tipicamente se concentra em casos de traumatismos ou condições com risco de morte. Por exemplo, a vítima de um acidente automobilístico é investigada para fraturas e traumas ao chegar no pronto socorro. Sendo identificada uma fratura óssea na perna, a equipe de traumatologia assumirá o caso (cirurgia, imobilização, medicações para esta situação). Se houver um sangramento intracerebral a outra equipe assumirá a investigação e conduta. Isso vale também para uma ruptura do baço, para um olho lesado ou para um sangramento torácico pós-traumático. Casos com risco iminente de morte (ou de graves complicações) são por exemplo os infartos cardíacos, úlceras duodenais perfuradas, infecções como apendicite, meningite e pneumonias.
Para todas estas situações descritas acima, a equipe “de porta” do pronto socorro faz a triagem do caso e encaminha para conduta pela equipe responsável (clínica, cirurgia, pediatria, ginecologia e obstetrícia). Quando o paciente procura o pronto socorro por dor de cabeça, a equipe de triagem encaminha para o clínico que avalia possíveis causas graves de cefaleia. “Causas graves” são aquelas que colocam o paciente em risco de complicações ou morte, como meningites ou sangramentos intracranianos. Uma vez afastados este risco de morte, o paciente será medicado para dor, dispensado e deverá procurar tratamento em clínicas e consultórios.
MITOS E VERDADES SOBRE DOR DE CABEÇA NO PRONTO SOCORRO
1 - O pronto socorro é o melhor lugar para tratar crises de enxaqueca (migrânea)?
O ambiente é estressante, ruidoso, com luzes fortes e odores intensos – todas estas condições tendem a piorar as crises de dor de cabeça, particularmente nos casos de enxaqueca. Pacientes com dores de cabeça recorrentes devem ter um médico responsável pelo tratamento, buscando diminuir a intensidade, duração e frequência dos sintomas de cefaleia.
2 - A crise de enxaqueca com dores intensas só melhora com medicação intravenosa?
Muitos pacientes vão em busca de tratamento endovenoso no pronto socorro, acreditando que sejam mais eficazes para dores intensas que aqueles usados por via oral. Entretanto, quando a medicação oral é tomada no momento certo, ela pode ser eficaz mesmo em crises de dores intensas. Outro problema comum é a presença de náuseas e vômitos, que pode inclusive prejudicar a absorção do medicamento. Por isso, na presença de náusea ou vômitos, um medicamento que melhore estes sintomas pode ajudar muito, evitando em muitos casos a necessidade de buscar o pronto socorro.
3 - Fazer exames (como tomografia ou ressonância) durante a crise de dor de cabeça pode dar o diagnóstico de enxaqueca ou ajudar no tratamento?
Muitas vezes os pacientes querem fazer exames na hora da crise para identificar a causa de sua dor de cabeça. Muitas radiografias e tomografias são feitas no pronto socorro sem identificar nada, prolongando o tempo que a pessoa com dor fica aguardando resultados. O diagnóstico das cefaleias primárias (as mais comuns) é feito baseado na história e características clínicas.
QUANDO DEVO PROCURAR PRONTO SOCORRO PARA MINHA DOR DE CABEÇA?
Em algumas situações a dor de cabeças vem acompanhada de outros sintomas que podem indicar uma doença mais grave. Nem sempre que a pessoa apresenta algum desses sintomas haverá confirmação da gravidade, mas é necessária uma atenção maior e eventualmente uma avaliação na emergência. A lista abaixo mostra condições que quando acompanhadas da dor, podem maior gravidade:
Outras condições que devem ser sinais de alerta:
COMO EVITAR DORES DE CABEÇA DURANTE MEU ISOLAMENTO?
O isolamento social muda muito a vida das pessoas. Convivência contínua com a família, por vezes em um espaço pequeno, pode gerar estresse e conflitos. Medo da pandemia, preocupações financeiras e mudança repentina dos hábitos de vida podem ser gatilhos para desencadear crises de dor de cabeça.
Sugerimos regularidade nos horários de sono e alimentação. Manter alimentos saudáveis, tomar muita água e manter atividade física por exercícios feitos dentro de casa. Evitar horas e horas da mesma atividade, por exemplo assistir TV, e focar em tarefas diferentes durante o dia como leitura, artesanato, arrumação de cômodos da casa, brincadeiras com filhos envolvendo canto, dança e criatividade. Telefone para parentes idosos, mande vídeos e histórias para eles que estão isolados. Tome cuidado com informações falsas, e evite repassar todas as notícias que você receber. Excesso de informação e notícias falsas são uma fonte de ansiedade que podemos modificar.
Se temos que ficar em casa para o bem de todos, então façamos desta oportunidade um momento mágico que nos fará pessoas melhores, mais criativas e dedicadas aos familiares.