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LASMIDITAN: O MAIS NOVO MEDICAMENTO PARA MIGRÂNEA APROVADO PELO FDA

PUBLICADO EM 03/12/2019

Dr. João Batista Alves Segundo

Neurologista especialista em Dor

Membro da SBCe e SBED

Coordenador do Comitê de Terapias Complementares e Integrativas da SBCe

Em 11 de outubro de 2019, o Food and Drug Administration (FDA) aprovou mais um novo medicamento para o tratamento agudo da migrânea com ou sem aura, o Lasmiditan (desenvolvido pela empresa LlLLY). Esta droga faz parte de uma nova classe chamada de “DITANS”, agindo como agonista do receptor serotoninérgico 5-HT1F, com alta afinidade e seletividade. Atua no sistema trigeminal com baixa probabilidade de causar vasoconstricção (devido sua baixa afinidade pelos receptores 5-HT1B), o que é um dos cuidados que devemos sempre observar com os já consagrados “Triptanos”. O Lasmiditan possui pelo menos dois estudos Fase 3 (SAMURAI e SPARTAN), que avaliaram a segurança e a eficácia no tratamento agudo da migrânea em adultos, com desenhos praticamente idênticos.

 

            O Lasmiditan apresenta na literatura o ensaio clínico randomizado fase 3 (Neurology 2018 doi:10.1212), o qual foi superior ao placebo nas doses de 200mg e 100mg, configurando um estudo nível I de evidência. Foram randomizados 2.231 pacientes, onde 1.856 trataram uma crise de migrânea e divididos em grupos 200mg x 100mg x placebo, com end point primário o efeito de estar livre de dor em até 2h após utilização dos medicamentos.

 

            Foram ainda avaliados secundariamente os efeitos da dose 100mg, efeito nos sintomas associados a migrânea em até 2 horas (fotofobia, fonofobia, náuseas), além do registro dos efeitos colaterais, todos os registros feitos via eletrônica. Os pacientes apresentavam em média de 5 a 7 crises/mês e aproximadamente 30% apresentavam aura.

 

            Dos pacientes que usaram Lasmiditan, 32,2% e 28,2% apresentaram-se livres da dor em 2 horas após a tomada da medicação nas doses de 200mg e 100mg, respectivamente. Esse resultado foi estatisticamente significativo (p < 0,001) em comparação ao grupo placebo, que obteve esta reposta em apenas 15,3% dos casos.

 

            Os pacientes que receberam Lasmitidan na primeira dose apresentaram menor probabilidade de usar uma segunda dose do medicamento em relação aos que receberam o placebo: 31,9% (177 de 555) no grupo 200mg; 39% (219 de 562) do grupo 100mg e 59,9% (332 de 554) no grupo placebo.

 

            Quanto ao perfil estudado de tolerabilidade, o Lasmitidan apresentou efeitos colaterais classificados como leve ou moderado. Eles ocorreram com uma incidência de aproximadamente 2% nos três grupos, entretanto houve maior taxa de tontura, fadiga, letargia, náusea e sonolência no grupo teste do que o placebo. Médicos e pacientes devem estar cientes de que a droga possa reduzir sua capacidade de dirigir ou de outras atividades que exijam alerta pelos possíveis efeitos de sedação ou letargia.

 

            A incidência de efeitos adversos cardiovasculares foi baixa. Os relatados foram palpitações em 3 pacientes (0,5%) recebendo 200mg, 2 pacientes (0,3%) no grupo 100mg e bradicardia em 1 paciente (0,2%) recebendo Lasmitidan 100mg. Vale ressaltar que nesse estudo foram incluídos pacientes com um ou mais fatores de risco cardiovasculares, porém estáveis. Acredita-se que o Lasmiditan não apresente potencial efeito vasoconstrictor por sua baixa afinidade aos receptores 5-HT1B. Em suma, o perfil de segurança do Lasmitidan foi consistente com os estudos de fase 2.

 

            O que foi concluído neste estudo fase 3 foi que o Lasmiditan administrado nas doses de 200mg e 100mg foi eficaz e bem tolerado no tratamento da crise migranosa em pacientes com alto nível de fatores de risco cardiovascular. Lembrando ainda, que o medicamento, até o presente momento, só fora liberado pelo FDA e não pela ANVISA.

 

            Recentemente Goadsby et al. (2019) publicaram na Brain um ensaio clínico randomizado que confirma os resultados do estudo de Kuca et al. (2018), sendo que foram testadas doses de 50mg / 100mg / 200mg em comparação a placebo.

 

            Estes estudos controlados por placebo incluíram a avaliação do Lasmiditan durante um único ataque e os dados referentes à adesão e conformidade a longo prazo não estão disponíveis. São necessários dados de segurança adicionais de um estudo de segurança a longo prazo de Lasmiditan para o tratamento agudo da migrânea.

 

Referências

 

  1. Kuca B, Silberstein SD, Wietecha L, et al. Lasmiditan is an effective acute treatment for migraine: A phase 3 rando- mized study. Neurology 2018; 91: e2222–e2232.
  2. Goadsby PJ LL, Dennehy EB, Kuca B, et al. Phase 3 randomized, placebo-controlled, double-blind study of las- miditan for acute treatment of migraine. Brain. Epub ahead of print 27 May 2019. DOI: 10.1093/brain/awz134.
  3. Buchanan A. S, et al. Safety findings from Phase 3 lasmiditan studies for acute treatment of migraine: Results from SAMURAI and SPARTAN. Cephalalgia. 2019, Vol. 39(8) 957–966
  4. Press report Lilly. Lilly's REYVOW™ (lasmiditan), The First and Only Medicine in a New Class of Acute Treatment for Migraine, Receives FDA Approval, oct 2019.