Aline Turbino Neves
Neurologista pela Casa de Saúde Santa Marcelina- SP; Coordenadora e Chefe do Setor de Investigação de Cefaleias da residência de Neurologia do Hospital Santa Marcelina-SP; Mestre em Neurociências pelo Setor de Investigação de Cefaleias da UNIFESP-SP; Especialista em toxina botulínica e bloqueios musculares pela Faculdade de Medicina da USP-SP
Dor de cabeça na gravidez pode significar progressão ou piora de uma doença prévia, como no caso da enxaqueca ou da dor de cabeça do tipo tensional, ou ainda significar uma doença neurológica nova e potencialmente grave à gestante e ao feto. A enxaqueca raramente se inicia durante a gestação, e costuma melhorar (55-90%) na maioria das mulheres durante o segundo e o terceiro trimestre. A cefaleia do tipo tensional pode se agravar pelas alterações posturais e pelo estado de estresse gestacional.
O neurologista procede a história clínica e o exame neurológicos, sendo possível diagnosticar desta forma a maioria dos casos no próprio consultório médico. A enxaqueca é um fator de risco grave para várias complicações, por isso o seguimento com um neurologista é recomendado. O estado de alteração hormonal, hipercoagulabilidade materna (facilidade em desenvolver coágulos), associado a mudanças do volume sanguíneo e alterações da imunidade predispõem as gestantes e as puérperas (pós parto) a uma série de doenças graves, tais como vasculites (inflamações dos vasos), hipertensão intracraniana idiopática, eclampsia, trombose venosa cerebral, acidente vascular cerebral (derrame cerebral) e hemorragias intracranianas . Assim, dores de cabeça que se iniciaram durante a gestação (enxaqueca raramente começa na gestação) ou com mudança do padrão, ou ainda com piora acentuada devem sempre ser avaliadas por um neurologista, que irá determinar a necessidade de exames mais sofisticados e de um tratamento específico.
O tratamento na gestação pode variar desde terapias não medicamentosas como: relaxamento, biofeedback, compressas frias, fisioterapia, acupuntura e psicoterapia, até medicações para analgesia via oral e anestesias locais (realizadas por neurologistas especialistas em dor de cabeça), bem como a instituição de medicações preventivas (para evitar a dor).
Deve ser considerado o uso de medicações para profilaxia em caso de dores de cabeça de forte intensidade, com grande frequência e associadas a náuseas e vômitos, pelo potencial risco de desidratação da mãe.
É um mito que gestante tenha que viver com dor. Há opções disponíveis de tratamento tanto para a crise de dor como para a prevenção, e todas elas, devem ser discutidas com o seu neurologista. Seu médico irá considerar a idade gestacional, intercorrências do pré-natal, as doenças que a gestante possui e o perfil de riscos associados, instituindo assim o tratamento mais seguro e adequado para a mãe e o bebê.