Daniel Bonotto
Graduado em Odontologia pela Universidade Federal do Paraná; Mestre em Ciências da Saúde pela PUC-PR; Doutor em Odontologia pela PUC-PR; Pós-graduado em Acupuntura pela UNESP/São José dos Campos; Professor do curso de Odontologia da UFPR e do curso de Especialização em DTM e Dor Orofacial da UFPR; Especialista em DTM e Dor Orofacial pela Universidade Federal do Paraná.
Ranger e apertar os dentes pode causar dor de cabeça? O Bruxismo envolve o ato de encostar, apertar ou ranger os dentes durante o sono ou mesmo acordado (bruxismo da vigília). Além das consequências dentárias, como desgaste e fraturas de dentes, o bruxismo pode trazer desconforto ou dor na face e cabeça. Estes sintomas dolorosos são genericamente conhecidos como disfunção temporomandibular (DTM).
A relação entre bruxismo, DTM e cefaleias já é bem conhecida e pode acontecer de diversas formas. Pessoas que tem enxaqueca apresentam mais DTM que pessoas sem enxaqueca, e vice-versa. Por outro lado, pessoas que tem bruxismo e DTM podem apresentar dores na cabeça semelhantes à enxaqueca ou à dor de cabeça tipo tensional.
A dor de cabeça causada por bruxismo e DTM é chamada de Dor de cabeça Atribuída à DTM. Este tipo de dor de cabeça apresenta algumas características frequentes: acontecem na região das têmporas e no rosto, pioram com movimentos da boca ou durante a mastigação, pioram com o apertar dos dentes e pioram com a palpação na região das têmporas (figura 1). Se o bruxismo acontecer durante a noite, é comum que o paciente já acorde com a dor de cabeça, como mostrou um recente estudo da equipe do HC-UFPR apresentado no XXXII Congresso Brasileiro de Cefaleia, sob orientação do Dr. Pedro André Kowacs e do Dr. Élcio Piovesan. Outro estudo brasileiro, da equipe da UNESP- Araraquara, demonstrou que pacientes (mulheres) que sofrem de enxaqueca e também apresentam DTM como comorbidade tem melhor resposta ao tratamento se as duas condições forem tratadas em conjunto.
Figura 1: Características da dor de cabeça relacionada à disfunção temporomandibular.
O bruxismo do sono deve ser controlado com medidas de higiene do sono, descarte e manejo de fatores associados (álcool, fumo, drogas ou substâncias estimulantes) ou ainda com placas oclusais em acrílico confeccionadas por cirurgião-dentista. Já o bruxismo da vigília deve ser abordado sob o aspecto comportamental. O uso de aplicativos de celular que ajudam o paciente a “lembrar” de não apertar os dentes tem trazido grandes resultados.
Nota-se que é importante estar atento à presença de bruxismo em pacientes com dor de cabeça. Quando a relação está presente, o tratamento em conjunto do médico com o dentista pode trazer muitos benefícios a estes pacientes, diminuindo dor e melhorando a qualidade de vida.
Referências
Goncalves DAG, Camparis CM, Speciali JG, Castanharo SM, Ujikawa LT, Lipton RB, Bigal ME. Treatment of Comorbid Migraine and Temporomandibular Disorders: A Factorial, Double-Blind, Randomized, Placebo-Controlled Study. Journal of Oral & Facial Pain and Headache. 2013; 27(4): 325-35.
Pimentel G, Bonotto D, Hilgenberg-Sydney PB. Self-care, education, and awareness of the patient with temporomandibular disorder: a systematic review. Br J Pain. São Paulo, 2018; 1(3): 263-9.