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XXXII CONGRESSO BRASILEIRO DE CEFALEIA: "Que tamanho tenho eu?"

PUBLICADO EM 18/09/2018

 

Que tamanho tenho eu?

Era uma vez uma menina.

Não era uma menina deste tamanhinho. Mas também não era uma menina deste tamanhão. Era uma menina assim mais ou menos do seu tamanho . E muitas vezes ela tinha vontade de saber que tamanho era esse, afinal de contas. Porque tinha dias que a mãe dizia assim: - Helena, você já está muito grande para fazer uma coisa dessas. Onde já se viu uma menina do seu tamanho chegar em casa assim tão suja de ficar brincando na lama? Venha logo se lavar! Então ela achava que já era bem grande. Mas às vezes, também, o pai dela dizia assim: - Helena, você é muito pequenininha para fazer uma coisa dessas. Onde já se viu uma menina do seu tamanho ficar brincando num galho de árvore tão alto assim? Desça já daí. Se não, você pode cair. E pode derrubar o ninho do joão-de-barro. Aí Helena achava que ela era mesmo uma bebezinha que não podia fazer nada sozinha.

(MACHADO, Ana Maria. Bem do meu tamanho. Sa?o Paulo: Editora Salamandra, 1980).

 

Nosso cérebro é uma máquina mágica, e isso não é novidade para ninguém, particularmente para os que se dedicam ao estudo das neurociências. Porém, ainda nos surpreendemos com situações do cotidiano e com a capacidade desta interface cérebro/mente nos levar a lugares que há muito estavam silentes na "casinha" do nosso inconsciente.

Ao chegar no Congresso de Porto de Galinhas, imediatamente veio-me ao pensamento o livro que citei acima, que devo ter lido ainda nos primeiros anos de educação infantil.

Uma sala lotada, pessoas nos corredores, sentadas no chão...absortas com o conhecimento que estava sendo passado pelos palestrantes, escolhidos com muita competência pela organização do evento. Será que nosso congresso havia crescido em volume e não tínhamos percebido? Será que não sabemos ainda o quanto de interesse existe em médicos e estudantes sobre dores de cabeça? Mesmo competindo com as belezas naturais do local, sol a pino, a ciência pulsava.

Mérito total para os Drs Marcelo Valença e Pedro Sampaio.

Mérito para o mestre Wilson Farias da Silva, que fez de Pernambuco uma das Mecas do estudo das Cefaleias. Era um sucesso anunciado.

Estudantes foram privilegiados com sessões diretamente voltadas para eles. Inclusive o Congresso foi finalizado com uma sessão de educação e ensino. "Pensamos na formação dos pequenos para que grandes se tornem".

E por falar em pequenos, que Mesa Redonda genial foi a de Cefaleia na Infância.

Atenção especial também foi dada à sessão de Pôsteres, além do horário estratégico de discussão e apresentação dos Temas Livres no início das atividades. Mais um ponto para a organização do evento.

Não menos importante foi atividade de início do congresso, voltada para o cotidiano. Em liberdade poética, seria uma analogia ao "Cefaliatra adolescente", em amadurecimento. Atualizações de conceitos, revisão de temas frequentes e ousadas propostas de abordagens de tratamento.

Mas o "Cefaliatra adulto" não foi esquecido e esse foi um Congresso em que percebemos que estamos vivenciando o futuro da especialidade. Decididamente, entramos na era dos anticorpos monoclonais. No que diz respeito à inovação em tratamentos, uma revolução comparada ao furor do lançamento dos triptanos em décadas anteriores. As palestras do Dr Messoud Ashina foram um show à parte.

Como de costume, recebemos os exemplares da Headache Medicine. Recomendo a todos a leitura dos artigos publicados, e não tenho dúvidas de que nossa Revista está madura o suficiente para o processo de indexação.

E o que falar da Conferência  "Inteligência Artificial" ? Somos todos muito sortudos por termos a oportunidade de poder ouvir as palavras serenas e sempre pertinentes do Professor Wilson Sanvito. Passado e perspectivas em um conversa de uma hora, que passou como se fossem segundos. Certamente o clímax, com sotaque paulistano, no coração do nordeste brasileiro.

Sotaque que nos faz lembrar que o próximo congresso será na cidade de São Paulo, Estado de tantos mestres, que inspiraram gerações de Neurologistas de todo o País, e que já nos deixa ansiosos por este encontro.

Ficam a saudade de um evento ímpar e o desejo de sucesso a Dra Thais Villa, que terá a honra de escrever mais um capítulo de sucesso na história da Sociedade Brasileira de Cefaleia e de aumentar essa boa dúvida sobre o real tamanho que temos.

Até São Paulo, em 2019.

 

Alan Chester Feitosa de Jesus

Neurologista, Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Cefaleia.