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SÍNDROMES PERIÓDICAS DA INFÂNCIA

PUBLICADO EM 18/10/2017

Abram Topczewski

Neurologista da Infância e da adolescência do Hospital Albert Einstein

Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia

Membro da International Headache Society.

 

As síndromes periódicas configuram alguns sintomas apresentados na infância que são considerados como precursores da enxaqueca (migrânea). Vários são os sintomas que, em muitas ocasiões, podem acompanhar outros quadros clínicos que devem ser afastados. O tipo, a duração dos sintomas e a periodicidade das manifestações sugerem existir uma relação estreita com a enxaqueca (migrânea).

Os vômitos cíclicos, que se manifestam desde o período lactente, em vários momentos têm como diagnóstico comum o refluxo gastresofágico ou intolerância alimentar, especialmente à lactose. Mesmo quando os vômitos são pouco frequentes esse é o diagnóstico inicial. Há casos que o início é mais tardio, em torno dos 4 anos.  Nestes casos não se pode atribuir esses vômitos a um quadro alérgico aos alimentos que são consumidos rotineiramente.

As dores abdominais predominando na região próxima do umbigo que são recorrentes e paroxísticas, por vezes associadas a náuseas, palidez, que duram minutos a poucas horas, configuram o quadro da enxaqueca abdominal. A maioria destes pacientes é submetida a avaliações laboratoriais extensas e não se encontra qualquer doença a ser correlacionada. O início do quadro pode se apresentar a partir do 1º ano, mas é mais frequente aos 4-5 anos de idade.    

Dores nos membros inferiores, especialmente noturnas e por conta disso a criança desperta chorando durante a madrugada.  Essas manifestações podem ter uma frequência variável, ou sejam, semanais, mensais ou até com intervalo maior. A dor dura cerca de 10-30 minutos e após a criança adormece. Em várias ocasiões a dor é mencionada no final da tarde e início da noite e tenta-se atribuir às atividades físicas do dia, mesmo sendo de curta duração, que melhora sem qualquer tratamento. Há que se mencionar que as dores nos membros inferiores são impropriamente denominadas dores do crescimento. Em muitas ocasiões essas crianças já fazem menção à cefaleia durante o dia que muitas vezes não é considerada.

A vertigem paroxística se manifesta com alteração do equilíbrio, acompanhada de palidez facial, sudorese, olhar assustado, nistagmo (movimentos oculares involuntários), vômitos. Nessas circunstâncias a criança procura se agarrar a alguém ou a alguma coisa. Esse quadro pode ser evidenciado desde 2 anos de idade e, também, aparece com intervalos variáveis

Cinetose é outro sintoma bastante frequente, caracterizado por náuseas, vômitos, palidez que se verifica ao viajar de automóvel avião, barco ou ao utilizar brinquedos móveis dos parques.

O torcicolo paroxístico é um desvio da cabeça para o lado que aparece de modo súbito que pode vir acompanhado por náuseas, vômitos, palidez, sudorese e instabilidade à marcha. O quadro pode se manifestar desde o 1º ano de vida e desaparece aos 4-5 anos de idade. A crise com caráter paroxístico dura de minutos a horas ou dias e pode evoluir para uma enxaqueca futura.

Febre recorrente é um outro sintoma que aparece subitamente que pode durar 24 horas ou até um pouco mais, sem outras alterações associadas. Em algumas ocasiões há referência de cefaleia. Na maior parte dos casos a febre é atribuída a uma virose, porém sem qualquer confirmação pelos exames laboratoriais.