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ENXAQUECA COM AURA

PUBLICADO EM 18/10/2017

Paulo Sergio Faro Santos

Médico Neurologista

Coordenador do Setor de Cefaleia e Dor Orofacial do Instituto de Neurologia de Curitiba

Preceptor da Residência Médica de Neurologia do Instituto de Neurologia de Curitiba

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Cefaleia

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Cefaleia

INTRODUÇÃO

Dentre as centenas dores de cabeça conhecidas atualmente a que mais se destaca é a enxaqueca, tanto pela sua elevada frequência na população quanto pelo grau de incapacidade que provoca nas pessoas que sofrem desta doença. É importante saber que a enxaqueca não é apenas dor de cabeça, mas este sintoma, provavelmente o que mais incomoda, é apenas uma das inúmeras manifestações que fazem parte da grande síndrome.

A enxaqueca é cerca de duas a três vezes mais comum em mulheres que em homens e sua frequência na população tanto mundial quanto brasileira está em torno dos 12-15%. Dentre todos os indivíduos que possuem enxaqueca, a grande maioria apresenta (70-80%) “enxaqueca sem aura” e cerca de 20-30% apresentam enxaqueca com aura. Mas afinal o que é aura? Você irá compreender o que é aura no próximo tópico, leia abaixo.

FASES DA ENXAQUECA

A enxaqueca é classicamente dividida em 4 fases: 1ª – premonitória (pródromos); 2ª fase – aura; 3ª fase – dor de cabeça (cefaleia) e 4ª fase – resolução (pósdromo). É importante salientar que nem todas as pessoas que sofrem com enxaqueca manifestaram todas estas fases ou, pelo menos, não percebem que as tem.

 

1ª Fase – Premonitória (Pródromo)

Esta é a fase que geralmente inicia a crise enxaquecosa em aproximadamente 7-88%. É composta por sinais (aquilo que se percebe) e sintomas (aquilo que se sente) como: fadiga, bocejo, dificuldade de concentração, irritabilidade, depressão, avidez por doce. Esses sintomas podem ocorrer até 72 horas (3 dias) antes da dor de cabeça na enxaqueca.

 

2ª Fase – Aura

A aura é definida como manifestações neurológicas bem localizadas, que surge de maneira gradual (não súbita!), pelo menos uma aura ocorre em um dos lados do corpo, pode iniciar antes ou junto com a dor de cabeça e possui duração entre 5 a 60 minutos cada aura.

A aura visual é a mais frequente, ocorrendo em cerca de 90% das pessoas que enxaqueca com aura. Suas formas de manifestações são: pontos pretos (escotomas), pontos brilhantes (cintilações) e imagens em ziguezague (espectros de fortificação) que surgem em uma parte do campo visual e pouco a pouco vão se espelhando e crescendo.

 

Figura 1: Exemplos de auras visuais: A – espectro de fortificação; B – espectro de fortificação e escotoma; C – cintilações; D – espectro de fortificação. 

 

O segundo sintoma mais frequente de aura são as alterações sensitivas, as quais são descritas como formigamento ou dormência, que geralmente afetam apenas um lado do corpo e que vai se espalhando progressivamente no decorrer de alguns minutos. É bastante comum as pessoas com enxaqueca com aura sentirem esses sintomas em um dos braços, na face e, até mesmo, na língua.

O terceiro tipo de aura mais comum é o de fala e/ou linguagem. Nesses casos, o indivíduo apresenta dificuldade de pronunciar algumas palavras (disatria) e pode também pensar normalmente naquilo que pretende falar, porém ao tentar produzir as palavras, os sons saem incompreensíveis (afasia de expressão).

Normalmente, a evolução da aura ocorre através dos sintomas visuais, seguindo-se pelas manifestações sensitivas e, por fim, a alteração da fala/linguagem. É comum que logo após o término da aura surja uma intensa dor de cabeça, podendo ser típica ou não de enxaqueca.

 

3ª Fase – Dor de Cabeça (Cefaleia)

 

A fase da dor de cabeça é aquela que mais incomoda e que leva a pessoa à procura do médico para tratamento. A dor de cabeça geralmente ocorre de apenas um lado, qualidade latejante, forte intensidade e pode durar de 4 até 72 horas (3 dias). Durante o momento de pico da dor de cabeça, costuma-se sentir também enjoo e/ou vômitos, incômodo com luz, sons e cheiros.

 

4ª Fase – Resolução (Pósdromo)

 

A última fase, conhecida também como fase de “ressaca”, possui manifestações semelhantes àquelas da fase premonitória (1ª fase da enxaqueca). Normalmente a pessoa se queixa de sensação intensa de fadiga, sonolência, dificuldade de concentração ou até uma dor em toda a cabeça leve e residual, podendo durar até 48 horas (2 dias).

 

TRATAMENTO

 

É muito importante que a pessoa saiba que a enxaqueca não é apenas dor de cabeça, pois seu tratamento poderá ser instituído já nas duas fases anteriores (premonitória e aura) à fase da dor. Portanto, num indivíduo portador de enxaqueca com aura, deve-se entender que o tratamento da crise enxaquecosa precisar ser realizado na própria fase de aura, sem necessariamente aguardar surgir a dor de cabeça.

O tratamento apara a enxaqueca com aura, num geral, seguem as mesmas regras para o caso de enxaqueca sem aura. Porém, sabe-se que há medicações que promovem uma melhora maior nos casos de enxaqueca com aura, do que naqueles sem aura.

Um cuidado que sempre deve ser lembrado é que pessoas portadoras de enxaqueca com aura possuem risco de complicações vasculares maior que aqueles sem aura e que a população sem enxaqueca. Por isso, no planejamento de tratamento dessas pessoas, deve-se orientar a suspensão dos anticoncepcionais hormonais combinados (que contenham estrógeno e progestágeno), orientado o uso apenas do anticoncepcional isolado de progestágeno. Além disso, para outros fatores de risco vasculares, tal como o vício do tabaco, o indivíduo deverá ser encorajado e, muitas vezes tratado, para a sua interrupção.

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