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CEFALEIA TIPO TENSIONAL

PUBLICADO EM 18/10/2017

Erasmo Barros da Silva

Neurologista Cefaliatra

Professor de Neurologia UFPB

Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia

Membro da International Headachwe Society

 

INTRODUÇÃO

 

A cefaleia tipo tensional (ou dor de cabeça tipo tensional) é uma cefaleia primária e recorrente onde, após avaliação clínica e os exames complementares, não há sinais de lesão cerebral. Sua apresentação costuma variar entre pouco frequente, muito frequente ou crônica. A cefaleia tensional episódica pouco frequente ocorre de uma a duas vezes ao mês. Já a muito frequente, uma a duas vezes por semana. A crônica diária acontece mais de quinze dias ao mês por três ou mais meses, podendo durar anos.

 

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

 

A cefaleia tipo tensional ocorre mais em mulheres do que em homens e também pode surgir em crianças, adolescentes ou pessoas idosas. Sua intensidade é maior no final do dia ou no início da noite, com leve a média intensidade.

 

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

 

Tal tipo de dor de cabeça não apresenta aviso prévio e possui uma instalação de início lento, com localização variando entre frontal, no meio da cabeça, nuca, parte posterior ou toda a cabeça. Pode ser bilateral, pesada ou opressiva, agoniada e algumas vezes mal definida, mas dificilmente se apresentará como unilateral e latejante. Luz, cheiros, movimentos da cabeça não costumam piorar a dor. Não são acompanhadas por enjoo ou vômitos.

A cefaleia tipo tensional também pode estar associada a outros tipos de dor de cabeça, em especial a enxaqueca. Quando crônica, pode ter grande impacto negativo na vida do pessoal, social, profissional ou vida escolar do paciente, afetando inclusive o governo devido aos prejuízos no trabalho.  

 

CEFALEIA EPISÓDICA POUCO FREQUENTE

 

Este tipo ocorre de uma a duas vezes ao mês, com intensidade variando de leve até moderada. Sua duração é variável e depende dos fatores desencadeantes, podendo se estender de um até sete dias.

DESENCADEADA POR: estresse, tensão emocional, preocupações ou situações conflitantes passageiras.

ASSOCIADA A: ansiedade, alterações do sono, do apetite, dor muscular especialmente em ombros e nuca.

PIORA COM: estresse, preocupações, tensão emocional.  

TRATAMENTO DA CRISE: Analgésicos comuns ou anti-inflamatórios não esteroidais, sem ultrapassar dois analgésicos por semana ou mais de três meses pelo risco de cronificação. A principal prevenção consiste em afastar os fatores desencadeantes. O uso de ansiolíticos por um curto período ou antidepressivos podem ser necessários.

 

CEFALEIA EPISÓDICA MUITO FREQUENTE

 

Tal tipo corre de uma a duas vezes por semana, de leve a média intensidade.

DESENCADEADA POR: Situações estressantes, preocupações, tensão emocional, situações conflitantes.

ASSOCIADA A: distúrbios do sono, distúrbios do apetite, ansiedade, depressão, dor muscular.

TRATAMENTO DA CRISE: semelhante a cefaleia pouco frequente.

TRATAMENTO PREVENTIVO: resolver as situações estressantes, tensões emocionais, preocupações ou situações conflitantes. O uso de ansiolíticos por curto período e antidepressivo adequado costuma ser empregado pelo tempo que for necessário. Neste caso, é importante procurar o tratamento ao invés de fazer uso de analgésicos por conta própria, visto que esse é um dos principais fatores para a cronificação da dor.

 

CEFALÉIA TIPO TENSIONAL CRÔNICA

 

Consiste na menos prevalente das cefaleias tipo tensional. Ocorre mais de quinze dias ao mês, durante três ou mais meses ou anos. Em alguns casos, são diárias, contínuas. O paciente acorda e vai deitar com a dor, apresentando períodos de piora e melhora, sendo mais intensa no final do dia ou no início da noite. Tal paciente frequentemente abusa de analgésicos.

QUEIXAS ASSOCIADAS: Distúrbios do sono como dificuldade em conciliar o sono, sono fragmentado, período de sono reduzido; alterações do apetite, ansiedade, depressão, dor muscular em ombros e nuca ou difusa; alterações sistêmicas como taquicardia, mudança do ritmo respiratório, alterações na pele, alterações no ciclo menstrual, hipertensão arterial, aumento ou perda do peso, queda de cabelo, abuso de analgésicos etc.

DESENCADEADA POR: estresse, tensão emocional, preocupações e situações conflitantes das mais variadas, com longa duração.

TRATAMENTO: resolver os fatores desencadeantes é o melhor tratamento; suspender ou reduzir o uso de analgésicos, de um a dois comprimidos por semana; realizar atividade física regular; uso de ansiolítico por tempo limitado com antidepressivo adequado pelo tempo necessário. O tratamento pode durar meses ou anos, variando de acordo com cada caso. O tratamento nesta forma de cefaleia muitas vezes é difícil, havendo casos intratáveis. O sucesso do tratamento depende de vários fatores, sobretudo do próprio paciente e sua personalidade, da orientação médica correta, da dificuldade em resolver os fatores desencadeantes, entre outros.