Paulo Sergio Faro Santos
Médico residente, Departamento de Neurologia, Instituto de Neurologia de Curitiba – INC
Não deixem de ler abaixo os resumos dos artigos do Dr. Bordini et al. e do Dr. Mário Peres et al. Eles nos trazem informações sobre duas moléculas irmãs, uma exógena e a outra endógena.
Olhando para a similaridade estrutural de ambas, não surpreende que elas possam ter efeito sobre as dores de cabeça ainda que este, pelo menos a princÃpio, seja distinto.
Os Drs. Bordini et al. apresentam uma extensa revisão sobre a indometacina, desde quando a sua molécula foi sintetizada em 1963 e comercializada pela Merck como Indocin.
São descritos os aspectos farmacológicos, com uma biodisponibilidade molecular cerca de 98%, pico de concentração plasmática de 0,5-2 horas, tempo de meia-vida médio de 4,5 horas, metabolismo hepático e excreção renal.
Seus mecanismos de ação são diversos, que levam à vasoconstricção, redução da pressão liquórica, redução da velocidade do fluxo sanguÃneo, inibição da resposta trigeminovascular e redução do CGRP e VIP. Para aqueles que se perguntavam como a indometacina atuava nas cefaleias associadas ao esforço fÃsico, está aqui a sua explicação.
Interessantemente são listadas as cefaleias que são responsivas à indometacina. Elas são classificadas em 3 grupos: 1) Cefaleias trigêmino-autonômicas: cefaleias em salvas, hemicrania paroxÃstica e hemicrania continua; 2) Cefaleias relacionadas à atividade ou induzidas por Valsalva: cefaleia primária da tosse, cefaleia primária do exercÃcio e cefaleia atribuÃda à atividade sexual e 3) Miscelâneas: cefaleia primária em facas, cefaleia numular e cefaleia hÃpnica.
Além disso, nos faz um alerta em relação à responsividade ao uso da indometacina das cefaleias secundárias que mimetizam cefaleias trigêmino-autonômicas. Revelando que a boa resposta terapêutica não é um indicativo de benignidade da doença ou de uma cefaleia primária.
Os autores abordam a questão da cefaleia provocada pela indometacina, a qual ocorre em cerca de 20% daqueles que a utilizam continuamente. Fazem ainda uma abordagem crÃtica a respeito da resposta absoluta ao uso desta medicação frente à hemicrania paroxÃstica e à hemicrania contÃnua, revelando que nem sempre esta resposta absoluta é real, visto que até 30% dos pacientes não são respondedores ao tratamento.
Enfim, está a nossa disposição um excelente trabalho de revisão sobre uma intrigante medicação que ainda gera bastante discussão e curiosidade no dia a dia.
Já o grupo de pesquisa do Dr. Mário Peres, que há anos se dedica ao estudo da fisiopatologia da migrânea e o efeito terapêutico da melatonina nesta condição clÃnica, nos apresenta, através de um ensaio clÃnico randomizado placebo-controlado, a eficácia e a boa tolerabilidade da melatonina na prevenção da migrânea.
Nesta pesquisa foram comparadas a melatonina 3mg, a amitriptilina 25mg e o placebo. Os resultados foram animadores! Ambas, a melatonina e a amitriptilina, foram superiores no desfecho primário (redução na frequência em dias das crises de migrânea por mês) em comparação ao placebo. Entretanto, a melatonina se mostrou superior à amitriptilina num dos desfechos secundários, o qual era o número de pacientes com melhora maior que 50% na frequência da migrânea.
No que diz respeito à tolerabilidade das medicações, não ocorreu algum efeito adverso grave. Sendo que os grupos da melatonina e do placebo foram semelhantes em relação ao número de ocorrência de eventos adversos.
Diante de um panorama em que a última medicação aprovada pela Food Drug Administration para a prevenção da migrânea foi o Topiramato em 2004, a melatonina surge como uma nova opção terapêutica de baixo custo e com bons resultados clÃnicos.
A única barreira atual é a disponibilidade desta droga no mercado brasileiro, já que a Anvisa ainda não autorizou sua comercialização no paÃs, “No entanto, a legislação garante que pacientes que recebam a indicação de uso deste produto por um profissional médico possam importar para uso, seja via bagagem de mão ou mesmo pela internet.” (Assessoria de Imprensa da Anvisa).
Leia os resumos acessando os links abaixo:
Emilia C. Bordini, Carlos A. Bordini, Yohannes W. Woldeamanuel, Alan M. Rapoport. Indomethacin Responsive Headaches: Exhaustive Systematic Review With Pooled Analysis and Critical Appraisal of 81 Published Clinical Studies. Headache 2016; 422-435.
(http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/head.12771/abstract)
Andre Leite Gonçalves, Adriana Martini Ferreira, Reinaldo Teixeira Ribeiro, Eliova Zukerman, José Cipolla-Neto, Mario Fernando Prieto Peres. Randomised clinical trial comparing melatonina 3 mg, amitriptyline 25 mg and placebo for migraine prevention. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2016;0:1–6.
(http://jnnp.bmj.com/content/early/2016/05/10/jnnp-2016-313458.full)
ANVISA. Melatonina. DisponÃvel em: http://portal.anvisa.gov.br/informacoes-tecnicas13/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/melatonina/219201/pop_up?_101_INSTANCE_FXrpx9qY7FbU_viewMode=print&_101_INSTANCE_FXrpx9qY7FbU_languageId=pt_BR>. Acesso em: 26 de out. 2016.